Havia um sapateiro que enquanto trabalhava, cantava. Tinha uma dezena de filhos, que andavam pela rua esfarrapados, por serem pobres.
À noite, enquanto a mulher preparava a magra ceia, o sapateiro pegava na viola e tocava, sempre muito contente. Próximo do sapateiro morava um vizinho rico. Com pena deste e da sua família mandou dar-lhes um saco de dinheiro para os fazer felizes. O sapateiro agarrou no dinheiro e, à noite, fechou-se com a mulher para o contarem.
Naquela noite, o homem já não tocou viola. As crianças, como andavam a brincar pela casa, faziam barulho e levaram-no a errar na contag em do dinheiro, e ele teve de lhes bater. Ouviu-se uma choradeira. Mesmo quando estavam com mais fome nunca tinham chorado assim.
A discussão sobre o que fazer ao vil metal azedou. Palavra puxa palavra, o sapateiro zanga-se e bate na mulher. Estava instalada a confusão. Por fim, o sapateiro disse à mulher que ia devolver o dinheiro porque a fortuna tinha trazido a tristeza à família.
Este conto fazia parte livros escolares do Estado Novo. Sartre dizia que a pobreza e a esperança são mãe e filha. Ao se entreter com a filha, esquece-se da mãe. Nestes tempos a pobreza está de regresso mas sem esperança.
Fonte: http://www.correiodominho.com/cronicas.php?id=3897
Saudações Holísticas
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